O lado B de Buenos Aires


Muito além de Gardel, Piazzolla, Maradona e Evita Perón a capital da Argentina mostra que o bom da cidade está escondido no lado B. Esqueça os shows do Senõr.Tango e não se atreva a trocar os passos ao som de uma milonga. Buenos aires está cada dia mais cosmopolita. Desavergonhada e remixada, alternativa e abusada, católica e não santa, pretensiosa e destemida a cidade se desponta na América Latina como um paraíso de compras, gastronomia, arquitetura e design. Moderninha e agitada a cidade foge o ranso clássico sem perder o que ela tem de melhor – Glamour. Uma mudança de tão radical que provoca um estranhamento em quem a visitou no passado. A cidade dita a moda e os jovens de lá copiam a tendência new-dark-emo-punk que espalham pelo globo. Antenado ou não no que é pop caia na gandaia na noite Gay portenha. Se permita conhecer os inferninhos da noite em San Telmo e descubra a gastronomia exótica e sofisticada inventada nos restaurantes do Puerto Madero. Se pintar aquela vontade de se esbaldar na famosa picanha Argentina, feche os olhos que a vontade passa. Deixe para uma outra época. Se delicie nos novos sabores, nos aromas e nos temperos. Descubra bairro a bairro – La Boca, San Telmo, Centro, Retiro, Recoleta e Palermo – o que esta cidade tem de mais sagrado e profano. Você pode se surpreender.

Can you dance? Ser Gay Friendly está na moda

Buenos Aires tenta a todo custo ser o maior destino gay da América Latina. A palavra de ordem por lá é ser gay friendly em tudo o que é canto. Os hotéis gay friendly como Axel de Buenos Aires vivem lotados. Os restaurantes que colocam a bandeirinha do arco-íris na porta e entram para o guia gay da cidade só atendem com lista de espera. Na época da campeonato de futebol gay os donos de estabelecimentos gay friendly como saunas, boates, bares e afins ficam rindo à toa.è gente do mundo inteiro aportando na cidades às margens do Mar del Plata. Pode até ser pretensão da capital Argentina de tentar agarrar o título de capital gay com unhas e dentes. Mas, São Paulo e Rio de Janeiro, aqui no Brasil não vão perder o posto por nada deste mundo. A noite gay paulista dá de 10 na portenha. A boate The Week é referência até no exterior. E a rede de hotéis gay friendly carioca na época do carnaval? É ou não é uma loucura? Mas, deixar de conhecer a noite gay de Buenos Aires é até um sacrilégio!
Se a gente parar para pensar toda Buenos Aires é realmente gay. O bar Chueca ( nome do bairro Gay de Madri ) em Palermo e Puerto Madeiro são os mais animados. Mas é o Chueca, no miolo do inferninho de Palermo, que a noite pega fogo. Uma drag queem brasileira, tinha que ser, mostra que em matéria de transformismo o Brasil faz escola. A dublagem quase perfeita arranca gargalhadas da galera. Diferente das gays do Brasil a turminha descolada de lá não quer saber muito de ficar horas e horas esculpindo o corpo em sessões de puxa-ferro ou doses cavalares de asteróides. Muito longe do perfil de Apolo, os gays portenhos cultuam roupas modernas, carros importados e cabelos com corte italiano.
    
O agito da cidade só começa mesmo depois das duas. Se você não tem nada para fazer no dia seguinte, então, tome um energético e saia para gandaia. You can dance até o dia amanhecer e aí voltar para o hotel – acompanhado ou não! As duas melhores boates da cidade travam uma guerra de flyers. A boate Alsina assume que é aberta todos os dias para o publico gay. Com arquitetura clássica tem cara de bordelde luxo reformado. Já a Amerika é uma megadisdo de fazer inveja a famosa Studio 54 de Nova York. Ela alterna dias em que é totalmente gay e outros que, dizem, que não é. Uma mistureba que a torna o point preferido dos jovens de classe média, com cara de emo NX Zero cabeça aberta. E como a palavra de ordem é ser gay Friendly, foi lançado há alguns anos o Gay Card, um cartão que dá direito a assistência médica, informações turísticas, descontos em restaurantes e até um telefone celular. O marketing lá forte!

Um povo sem dinheiro, mas glamour é o que não falta!



Falta dinheiro, isto falta, mas e daí…o povo lá se vira numa boa. A ordem do dia é vestir a nova roupagem de “muderno” e atrair mais turistas. Os hermanos brasileiros são figurinha certa na cidade. Ainda mais com a nossa moeda valorizada frente ao peso argentino. E olha que mesmo com a crise, Buenos Aires é tudo de bom. Outros aires para marcar uma nova fase, a capital argentina, quer ver muitos dólares, euros e reais entrando na conta bancária. E a gente constata isto por toda a cidade. O bom é que tudo na cidade continua muito barato. Os jantares chiques custam pouco mais que 50 reais – para duas pessoas, claro! E andar de taxi então? Tão barato que dá vontade de reservar uma durante toda a estadia por lá. Mas, para conhecer mesmo a cidade é preciso gastar sola de sapato. Melhor ainda, você vai ter uma boa desculpa para comprar aquele tênis Puma ou Adidas por um terço do preço que custa aqui no Brasil.
Foi numa dessas viagens de taxis – de Palermo a Recoleta , dois bairros prá lá de alternativos de Buenos Aires – que a gente constata que a cidade tá mudada mesmo. Depois de falar de Maradona e criticar a seleção argentina de futebol, o taxista Hernandes Ferrano , na casa dos seus 45 anos coloca para tocar no som do carro uma música que eu nunca ouvi. Pergunto a ele de quem se trata e ele todo avisa: é uma banda nova que faz o maior sucesso aqui na argentina. Ela se chama Los Alamos – uma banda de rock que foi indicada pela revista Rolling Stone como a banda revelação de 2005. Adorei a novidade e perguntei onde conseguiria comprar um CD da banda. E não é que ele saca do porta-luvas um CD com músicas da banda, baixadas na internet, e, me vende por 10 pesos. Continuo a conversa para saber se ele ouve tango. Nesta hora eu vejo que o mundo acabou e esqueceram de avisar para os argentinos. “Tango? Nem pensar! Ninguém aguenta ouvir aquelas músicas chorosas. A gente precisa é ouvir boa música e com gente jovem”. Saí do taxi com uma dúvida. É o sinal dos tempos ou Buenos Aires avançou 20 anos no futuro?
E diante de tanta novidade, quem sai ganhando é aquele turista que curte baladas, agitos , arquitetura moderna, designer inovador numa cidade de consumo. Adiós Miami! Adiós Tóquio! Adios Paris, Buenos Aires é o new fashion. Já que o melhor da cidade é escondido pelas agências de turismo, então faça você mesmo a sua viagem. Buenos Aires é para ser conhecida de quinta a segunda, no mínimo. Durante a semana a cidade tem a cara de Belo Horizonte. Barulhenta, irritante e sem graça. Mas no final de semana, nem te conto, é pura badalação.
Antes de desvendar bairro a bairro nada melhor que um roteiro fast para guardar na memória. Ao chegar na cidade na quinta-feira pela manhã corra para o bairro La Boca. Visite o estádio La Bobonera, vascule o Centro de Artesanato do bairro e voe para o centro da cidade. Na praça da Casa Rosada – o palácio do governo – manifeste junte com as Mães de Mayo. No dia seguinte é dia de se esbaldar nas compras da rua Florida e adjacências. A tarde se perca dentro do cemitério do bairro Recoleta siga o fluxo dos turistas até o túmulo de Evita. Só não pode é ficar decepcionado com a que vai ver. Sábado é dia de se deslumbrar pelas ruas de Palermo. È cair na tentação e comprar tudo aquilo que você não precisa. E no domingo, você com a ajuda de Deus reserve o dia que era para o descanso para curtir a feira do bairro San Telmo. Você corre o risco de não querer sair de lá nunca mais. Te garanto que sua tentação vai ser encher a mala de quinquilharia, tranqueira e objetos antigos . Tudo isto durante o dia, pois, à noite, esqueça esta ordem e descubra que existe uma outra Buenos Aires assim que a noite chega. No acender das luzes dos postes a cidade se modifica. Sai os carros frenéticos e entra em cena o burburinho dos cafés e bares. Na madrugada o pecado mora ao lado. Ficar no hotel, apart ou em casa é perder de vista os delírios de uma cidade que beira a loucura de tão cosmopolita que é. E tudo isto, sem violência, sem drogas e preconceito. Bem, preparado para as emoções fortes. Então, bem vindo ao paraíso ou inferno. Você é quem escolhe.


La BOCA – As cores do mundo
 




No city tour que te levará aos principais pontos da cidade você corre o risco de não ver o que La Boca tem de melhor. A correria dos agentes em mostrar quase a cidade inteira em três horas é desesperador. Então, já sabe, esqueça os guias e faça sua própria viagem. La boca tem uma história muito charmosa. Bairro portuário que lembra a Itália, lugar dos primeiros habitantes genoveses (de 1880 até 1930) e do primeiro porto da cidade. Aqui está a tradicional ruela de La Boca – “O Caminito” (1959) – lugar que inspirou o tango homônimo, é uma passagem cheia de nostalgia do tango. O Caminito com cara de cortiço ganhou música de tango e histórias é que não faltam sobre o lugar. Foi lá que nasceu o tango – uma dança sedutora e envolvente e proibida para as moças de fino trato nos anos 20. Preconceito à parte, o tango antes dançado somente pelas prostitutas, e depois por casais menos conservadores, hoje virou hit para os bares gays da região. Aquela imagem clássica de Buenos Aires ficou no passado.
Na construção da cidade e do porto de Buenos Aires, com seus diques e pontes uma quantidade extra de mão de obra barata, quase escrava, veio lá da Itália para as obras. Ganhando o pão que o diabo amassou, esses estrangeiros construíram suas casas utilizando madeira e folhas de zinco. Usavam os restos de tintas doadas pelos navias que lá aportavam e aí surgiram as casas com um mosaico de cores. O bairro conserva até hoje, suas genuínas construções ou casinhas, de chapas ou madeiras pintadas com tonalidades vivas, dando um colorido todo especial para o bairro e tornando-se um museu ao ar livre
Enrico Suipacha, de 4 anos é quem nos recebe com o sorriso aberto no Centro Cultural e de Artesanato do Caminito. Ele não estranha o entra e sai de turistas do local. Já s acostumou enquanto a mãe se esforça para entender o portunhol de um casal de Recife. O garoto se diverte diante das câmaras. Ele virou até uma atração no local. Ano que vem Enrico vai para uma creche e o Caminito vai perder, durante a semana, um pouco do seu encanto.
Mas outro encanto está no estilo e nas cores do lugar. São a herança de uma época que a necessidade transformou a sucata portuária em design. Aqui também é o endereço do Estádio de La Bambonera, sede do clube de futebol Boca Juniors, o mais popular time da Argentina (1940).


Um centro de histórias e memórias




A Praça de Mayo testemunhou os fatos mais importantes da história Argentina e foi palco da revolução de maio de 1810. No centro da praça vê-se a Pirâmide de Mayo (1811), que foi o primeiro monumento construído na cidade, em comemoração à Independência. É nessa praça, também, que todas as quintas-feiras, na parte da tarde, se reúnem as Mães de Maio num protesto silencioso contra o desaparecimento de seus filhos. Hoje elas são símbolos de denúncia e resistência. Querem de volta os filhos “roubados” durante a ditadura e, para tanto, unem-se a favor de outras causas seja contra o aumento dos tributos na agricultura ou movimentos que pregam a liberdade de expressão. O olhar distante dessas mães não vivem sem a esperança. O lenço branco na cabeça, e a bandeira da argentina no peito as tornam ícones de um país em conflito com o seu passado.
Lá estão concentradas muitas das construções importantes de Buenos Aires: O Cabildo, a Catedral Metropolitana e a Casa Rosada. Esta, um belíssimo palácio cor-de-rosa, que data de finais do século XIX, é a sede do governo argentino desde a revolução. A Casa Rosada tem esse nome – e essa cor – devido a uma decisão do ex-presidente Domingo F. Sarmiento (cujo mandato durou de 1868 a 1874). Ele quis simbolizar a união de todos os setores políticos e esse rosa era a cor que distinguia alguns dirigentes federais, considerados seus opositores. A união propriamente dita não deu grandes frutos, mas a cor entrou para a história.
A avenida Corrientes, tradicional avenida portenha, é o endereço das livrarias, cinemas, teatros e casas noturnas, também é uma das avenidas que levam diretamente ao Obelisco. Um dos símbolos da cidade, com 68m de altura, foi construído para comemorar os 400 anos da chegada dos espanhóis na área do rio da Prata. Tal obra está localizada no cruzamento da Avenida Corrientes com a avenida mais larga do mundo – a 9 de Julho – com 140 metros de largura e 10 pistas.

Palermo – muito além do óbvio.





Palermo é talvez o bairro de classe média mais cool de Buenos Aires. Ele se divide em Palermo Viejo, Palermo Soho, Palermo Hollywood, Palermo Parque, Palermo Chico. São centenas de ruas e um enorme parque, que concentra os bosques de Palermo. Mas, o the best mesmo é o Palermo Soho. Ele fica em uma área que se estende entre a avenida Santa Fé e a rua Córdoba. Lá reúne lojas e espaços com projetos diferenciados que mesclam moda, design, arte, gastronomia, bares, cafés e hotéis design. Daí a cópia do nome ao bairro nova iorquino do Soho, Ambiente efervescente da arte, do lado boêmio, descolado, antenado, hype, contemporâneo e alternativo chic.
O coração do bairro é uma pequena praça, Plaza Serrano como é conhecida ou Plaza Cortazar como é formalmente denominada. É neste local, aos sábados, que o bairro pulsa com força sua denominação cosmopolita. Trata-se de uma praça até feia, com pouco verde e com um simples parque infantil com grades em volta. Mas rodeado de pizza bares que ficam lotados todas as noites. Durante o dia, os mesmos bares cedem espaço para as lojas improvisadas e é onde que se encontra de tudo o que é de vanguarda. Óculos by china, bolsas ecléticas e exclusivas, roupas coloridas, papelaria de outro mondo e objetos de design assinados por artistas. Tem também bijuterias hi-tech, artigos de luxo que lembram brinquedinhos de sex-shop e tudo o que você nem pensa em imaginar. Palermo Soho é um conjunto de quase cem quarteirões onde predomina a arquitetura de estilo espanhol que combina muito bem com os novos e contemporâneos projetos de designers e arquitetos jovens. O que marca as ruas e fachadas é o mix de casas simples e pequenas lojas com fachadas e projetos comerciais arrojados e de bom gosto.
As calles Honduras, El Salvador, Gurruchaga, Guatemala, Costa Rica, Nicarágua entre outras são as que concentram o maior numero de lojas, restaurantes e bares butiques da região. Tudo tem conceito e busca ser único e diferenciado.
Mesmo sendo retrô, Palermno Soho é muito mais moderna por ser uma região conceitual e fortemente jovem e dinâmica. O bairro respira forte à noite. Sua pegada boêmia inspira os jovens de classe média alta e muitos turistas. A noite os restaurantes acendem suas luzes, muita cor, fachadas envolventes e gente bonita parada nas esquinas e caminhando pelas ruas. Alguns quarteirões parecem pobres e abandonados, com calçadas esburacadas e fachadas cinzas, mas logo adiante espaços-butiques refinados ocupam as mesmas casas baixas, sobrados e onde se vê muitos poucos prédios residenciais.

Recoleta – Até a morte é chique





A Recoleta é o bairro mais mixed de Buenos Aires, – reduto da antiga aristocracia portenha e berço de um dos maiores centros de Design do país. Elegância e sofisticação de vanguarda se unem em seus museus, galerias, cafés e butiques, fazendo da Recoleta um passeio sensorial. Mas curtir o bairro é percorrer os corredores do cemitério e desvendar dentro das tumbas-capelas a arte que se esconde no local. São vitrais belíssimos, esculturas em bronze e mármore. Um dos mais bonitos e mais visitados do mundo. Suas tumbas guardam os restos de famílias tradicionais argentinas, além de grandes personagens históricos.Os caixões empilhados resistem ao tempo e, alguns ambientes são verdadeiras obras de arte e de adoração. E por falar em adoração, Evita Perón, apesar de protestos por suas origens humildes, conseguiu ser enterrada lá e hoje repousa na cripta da família Duarte. A tumba é modesta que dá até raiva em quem se perde pelo labirinto e dá de cara com uma capela de mármore escuro e sem graça. Mas mesmo assim ela é muitíssimo procurada. Os guardas podem dar indicações sobre como encontrá-la ou se preferir, siga o fluxo.
A poucos metros do cemitério fica o famoso Buenos Aires Design (Pueyrredón 2501) Primeiro centro comercial latino-americano voltado exclusivamente para a arquitetura, design e decoração. No terraço está o Paseo del Pilar, repleto de restaurantes com mesinhas externas e com uma bela vista para a Plaza Francia. E é justamente nesta praça que é possível apreciar dezenas de jovens sentados na grama. Namorando ou deixando a vida passar. Vale a pena visitar a feirinha que funciona nas sextas de 11 a 18h. É possível encontrar peças em prata, cerâmica, couro e artesanatos, além de presenciar shows de artistas de rua. Bastante frequentada por turistas, é um lugar ideal para ver e ser visto.
Do outro lado da avenida Figueroa Alcorta fica a praça Las Naciones Unidas. Diante de tudo o que é belo que você já viu nada se compara a Floralis Generica – uma gigantesca escultura em forma de flor, construída inteiramente em aço e alumínio. Doada a cidade pelo arquiteto Eduardo Catalano. Graças a um sofisticado sistema, as “pétalas” ficam mais abertas durante o dia e vão fechando à medida que vai anoitecendo. Uma reinvenção da natureza! Preparem as máquinas!

San Telmo – Do Jazz ao tango, num pulo

Antigo bairro boêmio, aos domingos San Telmo abriga sua famosa feira de antiguidades, com muito tango nas ruas. É o bairro eleito por artistas e intelectuais, sede de importantes antiquários e galerias de arte.Marque na sua agenda: domingo (e só!) é dia de ir ao Mercado de San Telmo e ver sua feirinha.Não precisa comprar nada, mas vá, dê uma volta entre as barracas, coma e beba por lá. Por ser ponto de concentração turística, artistas se apresentam no meio da feira, principalmente dançarinos de tango, os melhores dançarinos de rua de Buenos Aires. E tudo de graça. A poucos metros da Praça Dorrengo, em San Telmo a gente ouve de longe o som de um Jazz. A música What a Wonderful World de Louis Armstrong distoa com o lugar. Estamos em New Orleans? Não, a música é tocada por grupo de jovens em frente a Igreja de San Telmo.
Do outro lado da rua uma loja diferente deixa escapar um som delicioso de vozes femininas com toque retrô dos anos 50. Entro na loja L.Ago e me deparo com o que há de mais moderno no que diz respeito a decoração e design. Descubro que a música ouvida é do grupo inglês The Puppini Sisters. Deliciosa e envolvente, contagiante e frenética. De repente você percebe que está dançando no meio da loja e todo mundo te acompanha. Mesmo quem não gosta de feiras, badulaques e afins tem bons motivos para visitar este bairro pleno de diversão, arte e dezenas de bares e restaurantes. As estátuas vivas de lá são divertidas e ousadas. E vento levou… virou o tema de uma casal que consegue ganhar suas moedinhas tirando sorrisos dos turistas que passam por eles.

Retiro só no nome. O bairro é puro agito


O bairro Retiro tem dupla personalidade. Durante o dia, vive o ritmo acelerado das lojas e escritórios de gigantes corporações que se concentram por lá. Durante a noite, suas ruas enchem-se de gente de todos os tipos, transeuntes habituais, turistas, intelectuais, boêmios e amantes da boa comida, que vêm atraídos pela grande variedade de restaurantes, bares e pubs.Restaurantes que oferecem desde comida japonesa até pizzas e massas, passando naturalmente pela típica culinária argentina. Os bares e pubs são igualmente díspares, oferecendo a possibilidade de escutar bandas ao vivo tocando rock,jazz, música espanhola, eletrônica e, é claro, tango. É claro que também existe um Retiro diurno para os turistas e para os que gostam de andar calmamente pela cidade, pois nesta zona estão sediados os melhores e mais caros hotéis de Buenos Aires, numerosas galerias de arte e lojas que oferecem produtos típicos argentinos. Tudo isso na charmosa Av. Santa Fé.
O centro do bairro é facilmente reconhecível pela belíssima Praça San Martin. Hoje, abriga o imponente Palácio San Martin, de arquitetura Francesa. Atravessando a rua, você vai descobrir o contraste com o prédio das Relações Exteriores, uma torre de vidro moderníssima. Há também a “Torre de los Ingleses”, de estilo renascentista inglês, típica arquitetura britânica, doada pela comunidade inglesa na Argentina, no centenário da Revolução de 1816. Em frente, situa-se o belíssimo edifício,também inglês, da Estação Retiro. No vai e vem de pessoas a estação te remete ao passado. Um viagem no tempo dentro do café Retiro. O piano silencioso durante o dia descansa para ser usado ao cair das luzes.
Na praça também está a Fundação Federico Jorge Klemm. Dentro de uma galeria quase escondido você descobre que o artista esloveno radicalizado argentino ditou seu nome na cidade. Moderno já nos anos 70 ele criou polêmica com suas obras de arte conteporânea. Na Fundação trabalhos do artista dividem as pareds brancos com quadros de Salvador Dali, Picasso, Van Gogh e obras e fotos de Andy Warhol.
Na rua Florida localiza-se a Galerías Pacífico, um antigo edifício que foi transformado em shopping, com belos afrescos e pinturas no teto. Não perca tempo por lá, desde que queira conhecer o Centro Borges de Cultura. Aí sim, vale a pena. Bem perto dalí se encontra o Centro Cultural do Tango. Um espaço enorme que propõe manter viva a dança símbolo do país. Marque uma vista, mesmo que seja para ver os casais iniciantes aprenderem os trocar de pernas e o olhar penetrante de desejo e sedução.
A rede Fallabela aportou na Florida. De roupas modernas a produtos para casa – tudo made in china – você se perde dentro das três lojas ao longo da rua. Tudo muito chique, inovador e fashion.Os preços são inacreditáveis de bom. Fazer o quê… tô pagaaaaaaaaado!

Viva la Periferia…


É fugindo do passeio ao Pátio Bullrich ou evitar morrer de tédio dentro das Galerias Pacífico que a agente percebe que Buenos Aires tem vida própria e nem precisa mais ser comparada com Paris. Quando você entra no shopping Abasto dá de cara com uma turminha estranha e clonada. Todo mundo lá tem a cara, o jeito e o olhar da louca cantora Amy Whitehouse – depois de bêbada, claro!
Gente! Que pueblo moderno! Você pensa. E é mesmo! Todos parecem que saíram de uma revista anime japonesa ou estão simulando uma disputa de crossplay ( aquela galera que incorpora os personagens de quadrinhos ). Eles ainda não chegaram aos 16 anos, mas possuem uma personalidade marcante. A geração EMO prolifera na era globalizada. Cabelos com cortes irregulares. Pintados do azul royal ao rosa choque. No rosto da meninada, eu juro que vi, piercings variados de todas as cores e formatos e, como não podia faltar, rímel. Andróginos até mandar parar. Mas o que este Shopping tem assim de tão especial? Primeiro, lá tem um museu e se você der sorte ainda consegue ver a exposição do mestre das artes Leonardo Da Vinci. Segundo, tem um mega parque dos brinquedos que parece uma Disneylândia em miniatura. Terceiro, tem várias lojas de discos com o que há de melhor no mundo e, por último, tem as melhores lojas de roupas modernas com preços inacreditáveis. Precisa falar mais alguma coisa?

Puerto Madero – luxo


Aqui ficava o antigo porto de Buenos Aires. Os antigos armazéns foram convertidos em lojas, escritórios e num grande centro de gastronomia, com cerca de 1km de restaurantes, que conservam a antiga arquitetura. Revitalizados há cerca de dez ou 12 anos, eles abrigam atualmente o maior pólo de diversão portenha, que, para alguns, já tira o posto da Recoleta. Com seus restaurantes, cinemas, boates, lanchonetes e cafés, um museu, o Iate Clube, hotéis chiquérrimos e uma bela vista do rio, Puerto Madero é hoje um ponto de encontro dos portenhos (de dia ou na noite);desde executivos até funcionários. É ideal para curtir a pé, visitando seus 5 diques que formam o bairro. Perca-se por lá.


Logo em frente de um barco museu, no dique 3, está a belíssima Ponde da Mulher. Obra do Arquiteto espanhol Santiago Calatrava Valls. Representa, abstratamente, o desenho de um dançarino e uma dançarina de tango. Tem 160 metros de comprimento e 39 metros de altura.
È nesta região que a noite portenha se transforma. Bares como o Ásia de Cuba elevam o nome do lugar. Um misto de casa moderninha com ares internacionais o local é hoje o preferido em 10 a cada 10 turista que querem curtir um lugar eclético, com boa música, uma noite dançante e gente bonita. A cozinha internacional serve um mix de comida japonesa com a gastronomia catalã.
E aí? Já reservou a sua passagem ou vai esperar mais. São apenas 4 horas de viagem e você na dúvida se vai para Paris ou Nova Iorque. Preste atenção! Descubra você mesmo os outros segredos que Buenos Aires quer te contar.




2 comentários sobre “O lado B de Buenos Aires

  1. A sua descrição da cidade é encantadora. Assim que voltar de lá, dou minha impressão se você foi feliz ou não.
    De qualquer forma, do jeito que escreveu senti vontade de me mudar pra lá mesmo sem conhecer Buenos Aires.

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